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União representou Alagoas na Copa do Brasil 2014 |
O
sucesso da alagoana Marta
nos campos pelo mundo contrasta
com a realidade vivida pelo futebol feminino em Alagoas. Se por um
lado a atacante do FC Rosengard, da Suécia, foi campeã nacional e hoje
disputa
a Liga dos Campeões europeia da categoria, as meninas que atuam no
Campeonato Alagoano seguem lutando por uma valorização da modalidade no
estado.
A
missão, porém, é árdua. Sem receber salários no esporte, e tendo que correr
atrás do próprio sustento, as jogadoras em Alagoas mal conseguem comparecer aos
treinamentos durante a semana. Muitas, apesar de apaixonadas pelo esporte,
preferem não seguir com o sonho de tentar chegar ao mesmo patamar de Marta.
Para aquelas que persistem, mesmo com dificuldades, ainda há
pessoas dispostas a ajudar.
Uma
delas
é Adeílson Cassimiro, presidente e também treinador do União
Desportiva,
time que atualmente carrega o posto de campeão alagoano feminino. E,
mesmo tendo no currículo outros três títulos, o dirigente reconhece que,
na terra de
Marta, o futebol da categoria agoniza. Os motivos listados por ele
são muitos, mas o principal é a falta de investimento na modalidade.
Cassimiro
explica
que os custos, apesar de não serem altos, acabam se tornando
“pesados” para os gestores. Ele conta que, por jogo, gasta cerca de R$
400,00 entre as passagens das atletas do União e a compra de
equipamentos. Os
treinamentos, normalmente um por semana, são realizados em campos
públicos e em
horários alternativos, tendo em vista que as meninas do time precisam se
dividir entre o esporte e o trabalho, que lhes garantem o sustento.
Piora
o quadro o fato de que muitas das atletas do União não moram em Maceió, sede do
time. Segundo Cassemiro, das mais de 40 jogadoras que têm à disposição, são
poucas as que residem na cidade. A maioria vem de municípios do interior, como
Arapiraca, Viçosa, Novo Lino e Maragogi.
- O
nosso grande treino é na disputa das partidas do campeonato. Infelizmente há
uma grande dificuldade em se encontrar horário para treinar, porque as meninas
precisam trabalhar, ou até mesmo frequentar a escola. As nossas atividades
normalmente ocorrem às quartas-feiras à noite, mas tem treino que conta apenas
com cinco, dez jogadoras. Muitas delas moram no interior, e a logística fica
complicada. Elas não ganham salário, jogam mesmo por amor à causa. Para a nossa
sorte, o grupo é grande e muitas delas já se conhecem, o que facilita o
entrosamento – revelou o presidente.
O apoio
concedido ao futebol feminino praticamente é inexistente"
A. Cassimiro
Veterano
no
futebol feminino, Adeílson lembra dos poucos patrocínios que reuniu
para a sua equipe ao longo de uma década. A maioria, fornecia apenas
camisas e calções. Fora isso, a manutenção fica na conta dos
organizadores. Apesar de admitir uma tarefa árdua, ele garantiu
que tudo é feito por amor ao esporte e, principalmente, para o futuro
das
atletas.
-
Não é querendo me vangloriar, a gente não precisa disso, mas hoje o apoio
concedido ao futebol feminino é praticamente inexistente. São poucos os
patrocinadores, e não há interesse em investir. O União está aí hoje porque o
futebol é a minha paixão, e eu me sinto com a obrigação de ajudar a essas
meninas. Não financeiramente, mas de modo que elas tenham no esporte uma chance
na vida e façam boas escolhas – lamentou.
02
Da Suécia, Marta dá recado
Campeã
da liga sueca de futebol feminino com o FC Rosengard e atualmente na disputa
pela Liga dos Campeões da Europa da categoria, Marta sabe bem das dificuldades encontradas
em sua terra natal. Apesar de ter saído muito nova de Dois Riachos, interior alagoano, para o Rio de Janeiro, onde
começou sua carreira no Vasco da Gama, em 2000, a atacante afirmou que, mesmo de
longe, acompanha triste a desvalorização da categoria em Alagoas.
Marta é cumprimentada pelos fãs no jogo contra o Goteborg (Foto: Reprodução/ Site Oficial Rosengard)
-
É
uma triste realidade, que infelizmente sai também do ambiente alagoano, e
atinge
todo o Brasil. Sinceramente, eu desconheço qualquer investimento no
futebol
feminino em Alagoas, seja no âmbito público ou privado, o que é uma
pena. Tem
que existir mais apoio do governo, da nossa Federação – opinou a camisa
10 da seleção brasileira, que ainda fez uma previsão ruim para o esporte
em seu estado.
- Os
poucos clubes em atividade em Alagoas daqui a pouco fecham as portas por não
terem condições de se manter. A gente lamenta muito isso. Falta às autoridades
abraçar um pouco mais a nossa causa – completou a atleta, cinco vezes eleita a
melhor jogadora do mundo.
03
“Cenário
não é propício”, diz federação
João
Batista, mesmo na posição de superintendente de futebol amador da Federação Alagoana
de Futebol (FAF), afirmou não ver um cenário propício para uma possível
valorização do futebol feminino no estado. Segundo ele, “culturalmente” os
empresários locais não enxergam potencial na categoria, e preferem investir em
outras áreas.
Ele justificou
que a falta de estrutura dos clubes que atualmente disputam o
campeonato estadual da modalidade e, principalmente, os resultados ruins dos
representantes locais em competições de âmbito nacional desencorajam os investidores.
Campeonato Alagoano Feminino 2014 teve início no último dia 28 de setembro (Foto: Alan Jones/ FAF)
- O
que se pode fazer? O nosso papel a gente faz, organizamos os campeonatos,
promovemos as competições. Mas não temos responsabilidades sobre os times. Eles
precisam ter a estrutura necessária para participar dos campeonatos. Se não há
investimentos, é porque os empresários não veem possibilidade de retorno. É uma
questão cultural do alagoano, apostar em que dá retorno imediato. O futebol
feminino ainda não tem isso.
Atualmente
com cinco clubes na disputa, o Campeonato Alagoano feminino teve início no
último dia 28 de setembro. Além do União, participam o Aliança Desportiva, Sete
de Setembro, Dimensão Saúde e Universal. No Brasileiro deste ano, o estado não teve nenhum representante.
Por Globo Esporte