Na Segunda Divisão do Campeonato Pernambucano, Pássaro Preto busca, no entanto, seguir a sua sina de derrotas na elite do Estadual
O vestiário está cheio, afinal, é dia de jogo importante. O treinador está na preleção. A ordem do dia é motivar. Nunca o objetivo de vencer foi pregado com tanta força: "Hoje é o nosso dia, é a hora de vencer. Essa é a primeira (vitória) de muitas que virão." As palavras são bem assimiladas pelos atletas, que demonstram estar preparados. São jogadores de uma das equipes mais conhecidas do futebol brasileiro, aquele que conquistou fama internacional não pelos seus grandes feitos, mas sim pela ausência deles. Eles vestem a camisa do Íbis, o pior time do mundo.Neste ano, o Pássaro Preto segue firme em sua trajetória de insucessos. A noite nublada de quarta-feira em Paulista, cidade da Região Metropolitana do Recife, era como tantas outras para o Íbis. Sem conseguir vencer uma partida sequer na Série A2 do Campeonato Pernambucano (até então, cinco derrotas e três empates que colocavam o time em penúltimo na tabela), o Íbis entrava em campo diante do Jaguar, de Jaboatão dos Guararapes, para tentar espantar a "glória" de não conseguir um triunfo há mais de quatro anos - há 50 meses, para ser mais exato.
Jogando em casa, o Íbis bateu o adversário por 3 a 2 Será o início da ascensão do Pássaro Preto? Nem tanto. Ele quer subir de divisão, de preferência sem ser campeão, mas não tomar gosto pelas vitórias. Tornar-se um time vencedor definitivamente não faz parte dos planos.
(Foto: Terni Castro/Globoesporte.com)
- A situação que passamos não é difícil. O Íbis perder é algo normal para a mídia - brinca Marcos.
A opinião é compartilhada pelo presidente.
- Nosso objetivo é mais alto. Mas se continuarmos perdendo e mantivermos o título (de pior do mundo), vai ser bom também, porque continuarão falando da gente. É aquela coisa, falem bem ou falem mal, mas falem de Íbis - diz Ozí.
- Hoje o Íbis não é mais como antigamente. Agora somos organizados, fizemos um planejamento de um ano e meio. Montamos uma equipe e, mesmo com esses jogadores trabalhadores, conseguimos trazer atletas de outros estados. Temos outra estrutura, mesmo com pouco dinheiro. Estamos passando por um momento normal (no campeonato), e acredito que, quando vencermos a primeira, vamos deslanchar - acredita o treinador.
A possibilidade de uma vitória não assustava o mandatário do clube. Ozí sabe que um "tropeço" ou outro na história do Íbis não vai abalar o marketing rubro-negro.
- Veja, nós nem somos os piores. Se você for ver, hoje o pior é o Ferroviário (time do Cabo de Santo Agostinho que amarga a lanterna do campeonato). Se estivermos ganhando, vão falar que o pior está dando a volta por cima. Se continuarmos perdendo, continuaremos sendo o Pior. É audiência do mesmo jeito - brinca.
Íbismania
Pensando em associar o amor ao Pássaro Preto à própria marca icônica do Íbis e sua alcunha de "Pior do Mundo", o jornalista Israel Leal criou um movimento na Internet para deixar o Rubro-Negro mais conhecido do que já é por suas derrotas. O Íbismania foi criado em 2010 com objetivo de somar mais fãs ao time. E deu certo.
- Na verdade, fiz meu trabalho de conclusão de curso sobre o Íbis, e ele virou até livro. Depois disso, por conta da Copa do Mundo de 2010, queria chamar a atenção para o clube e criei o movimento. Hoje temos mais de 10.800 fãs em nossa página virtual, além de redes sociais, e viramos a mídia oficial do Íbis - contou Israel.
Uma das caracerísticas do projeto Íbismania é o humor ácido com a situação do próprio Pássaro Preto e com os outros times. Sobrou até para a seleção brasileira e para a Argentina.
- Quando Brasil e Argentina foram eliminados da Copa do Mundo (de 2010), colocamos imediatamente a notícia de que o Íbis estaria negociando para trazer Maradona ou Dunga para técnico. O povo riu, gostou, e a partir daí bombamos na Internet com essas brincadeiras - disse, brincalhão, o comandante do Íbismania.
Mascote trapalhão
- Faltavam poucos metros para chegar em primeiro lugar quando decidi dar uma olhada para ver quem estava atrás. A máscara rodou na minha cabeça e tapou minha vista. Não consegui ver nada e acabei caindo de cara no chão - conta Nelsinho, sem guardar o riso. - O pessoal achava que eu tinha feito de propósito, por sermos o Pior Time do Mundo. Mas não, caí mesmo e fiquei todo machucado. Quando terminou a prova e eu cheguei em segundo, todos os repórteres vieram me abraçar. Foi engraçado, porque ficou aquela história: nem na corrida a gente ganha.
Torcida 'fiel'
(Foto: Terni Castro/Globoesporte.com)
Mas os torcedores de coração estão presentes. É o caso do vendedor Rodrigues Costa. Torcedor há mais de 20 anos, ele tem explicação para esse amor "curioso" pelo time rubro-negro.
- Acompanho o Íbis desde a década de 90, quando chegou a jogar a Primeira Divisão. Fui ver a história de Pior Time do Mundo e acabei gostando. Apesar de só perder, o time está jogando bem. Quero ver o Íbis na Primeira Divisão, jogando contra o Sport, na Ilha do Retiro. Imagine só como seria? - sonha o vendedor, que passou a paixão para o filho, Lucas Matias, de dez anos.
- Tenho amor por dois rubro-negros, Íbis e Sport. Não é porque o Íbis só faz perder que eu vou deixar de torcer - ressalta o garoto.
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