Brasileiro coloca América Latina no cenário da ginástica com ouro nas argolas. País garante pelo menos mais dois bronzes com vitórias no boxe
Arthur Zanetti, se quisesse, poderia usar uma das músicas mais famosas
de Belchior como tema de vida ao acordar nesta segunda-feira. Era
"apenas um rapaz latino-americano sem dinheiro no banco, sem parentes
importantes, vindo do interior". Não era famoso. Era quase desconhecido.
Seu perfil no Twitter tinha cerca de 500 seguidores - contra mais de
200 mil de, sabe-se lá, Valesca Popozuda (nada contra a moça: apenas um
exemplo). Tinha algumas milhares de menções no Google, mas longe das
quase 7 milhões de referências à, sabe-se lá, Mulher Melancia (de novo,
nada contra a moça: apenas outro exemplo). Horas depois, a música de
Belchior não lhe serviria mais. Ele deixaria de ser apenas mais um rapaz
latino-americano. Passaria a ser o melhor deles naquilo em que é
especialista. Viraria o primeiro brasileiro, também o primeiro latino-americano, campeão olímpico de ginástica.
Admitamos: quantos de nós reconheceríamos Zanetti se ele cruzasse nosso
caminho em uma rua qualquer há poucos dias? Quantos de nós
imaginaríamos que aquele baixinho de 1,56m era um atleta olímpico, e dos
bons, daqueles que podem se pendurar em um par de argolas, testar o
limite de seus músculos, se contorcer como se fosse feito de borracha?
Quantos de nós, até bem pouco tempo atrás, sabíamos da existência de
Valesca Popozuda e da Mulher Melancia, mas não de Arthur Zanetti?
Pois é dele a segunda medalha de ouro do Brasil em Londres (a primeira
foi da judoca Sarah Menezes). Com nota 15.900, desbancou todos,
inclusive o chinês Yibing Chen, favorito absoluto da prova, dono de duas
medalhas de ouro e quatro títulos mundiais. E se tornou conhecido de
todos.
Arthur Zanetti comemora ouro com bandeira do Brasil: feito histórico em Londres (Foto: Reuters)
Ouro artesanal
Zanetti é um ouro artesanal, caseiro, saído de uma microempresa
familiar. Ele treina com criações de seu pai. Arquimedes Zanetti é
serralheiro. Tem uma oficina que dá à luz plataformas, pinos de
levantamento de peso, aquelas caixinhas onde fica o pó de magnésio que
dá segurança às mãos dos atletas. E argolas. Argolas feito aquelas onde,
do outro lado do mundo, o filho dele se tornou melhor do que todos os
outros.
E se tornou o melhor com uma mistura de habilidade e frieza. Foi tão
matemático quanto seu pai é ao fabricar as argolas. Calculou direitinho a
forma de se classificar em quarto e, assim, ser o último a se
apresentar na final. Queria ter certeza do resultado de seus
concorrentes para alçar mira no movimento certeiro para o ouro. Foi
impecável. Equilibrou músculos e articulações, abriu os braços feito o
Cristo Redentor que daqui a quatro anos receberá os Jogos, ficou
suspenso no ar, imperturbável, como se pudesse dormir ali, como se
estivesse tão confortável quanto no sofá de casa. Os aplausos do público
cresceram em progressão geométrica. Era a senha para o ouro.
Arthur foi o terceiro brasileiro a alcançar a final olímpica na
ginástica com chance de título. Chegou lá com menos fama, talvez menos
expectativa, do que Daiane dos Santos, em Atenas 2004, e Diego Hypolito,
em Pequim 2008. Seus antecessores não tiveram sucesso. Ele teve o maior
sucesso possível. Abriu as portas para a evolução de um esporte que,
como o próprio campeão disse, "precisa mudar".
Mais duas medalhas: é só esperar
Adriana Araújo vence mais uma e tem a certeza
pelo menos do bronze(Foto: Reuters)
pelo menos do bronze(Foto: Reuters)
Foi um dos melhores dias olímpicos para o Brasil, comparável apenas ao
primeiro, quando o país foi ouro com Sarah Menezes, prata com o nadador
Thiago Pereira e bronze com outro judoca, Felipe Kitadai. Na teoria, a
única medalha desta segunda-feira foi a de Zanetti. Mas a prática indica
mais duas que estão guardadas na poupança, esperando a devida
valorização para ser de bronze, de prata ou de ouro. Ambas são do boxe,
com Adriana Araújo e Esquiva Falcão. Eles estão nas semifinais, já com
uma medalha assegurada. Ela chegou lá ao superar a marroquina Mahjouba Oubtil por 16 a 12 na categoria até 60kg. Ele venceu o húngaro Zlatan Harcsa por 14 a 10 no peso-médio.
Esquiva Falcão repete sucesso de Adriana e também vai às semifinais (Foto: Agência AFP)
O Brasil também está nas semifinais do vôlei de praia. Mas com apenas uma dupla. Alison e Emanuel tiveram dificuldades para derrotar os poloneses Mariusz Prudel e Grzegorz Fijalek por 2 sets a 1 (parciais de 21/17, 16/21 e 17/15). Na terça-feira, enfrentam Plavins e Smedins, da Letônia. Já Ricardo e Pedro Cunha foram batidos pelos alemães Brick e Reckermann e estão fora dos Jogos. Perderam por 2 sets a 0, parciais de 21/15 e 21/19.
Pau Gasol e Anderson Varejão disputam bola no
garrafão em vitória brasileira (Foto: Getty Images)
garrafão em vitória brasileira (Foto: Getty Images)
No basquete, foi muito expressiva a vitória sobre a Espanha,
por 88 a 82. Mas há bens que vêm para o mal, invertendo o dito popular.
Com o triunfo, o Brasil terá um caminho mais complicado nas etapas
eliminatórias, com Argentina e, se passar, Estados Unidos pela frente.
No último quarto, o time espanhol, que liderava o placar, perdeu por 31 a
16. Coincidência ou não, garantiu assim uma trajetória teoricamente
mais simples até a final. A França estuda denunciar a Espanha ao COI,
sob alegação de corpo mole
Vitória também no vôlei. Já classificada, a seleção masculina bateu a Alemanha por 3 sets a 0. As parciais foram de 25/21, 25/22 e 25/19. A Argentina será a adversária nas quartas de final.
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No hipismo, o Brasil ficou em oitavo na disputa por equipes.
O ouro ficou com a Grã-Bretanha, à frente da Holanda, e o bronze foi
para a Arábia Saudita. O time brasileiro foi prejudicado por um
incidente. Uma das ferraduras de Maestro St. Louis, cavalo de Zé
Reynoso, caiu durante o aquecimento. Ela foi recolocada, mas o conjunto
entrou na pista atrasado e teve uma passagem ruim, com 46 pontos em
penalidades. Álvaro Affonso de Miranda, o Doda, e Rodrigo Pessoa estão
na final individual.
Os saltos ornamentais também terão presença brasileira na próxima fase. Cesar Castro avançou na 14ª colocação entre 18 classificados. A nova disputa é nesta terça-feira.
Já o atletismo e o nado sincronizado tiveram um dia de despedidas. Nas
piscinas, Lara Teixeira e Nayara Figueira fecharam sua participação no
13º lugar. Fabiano Peçanha, nos 800m, conseguiu vaga nas semifinais, mas Ronald Julião foi eliminado no arremesso de disco, em 41º, e Geisa Arcanjo parou na final do arremesso de peso, com a oitava colocação, entre as mulheres. Nos 200m, Evelyn dos Santos avançou às semifinais, ao contrário de Ana Cláudia Lemos, que resumiu de forma curiosa sua participação:
- Foi uma m...
Musa bronzeada
A musa do salto com vara voltará bronzeada para a Rússia. A terceira colocação foi o máximo que a bicampeã olímpica Elena Isinbayeva conseguiu.
Acostumada a alcançar 5m, ela não passou de 4,70m. Viu o ouro ir para a
americana Jennifer Suhr. A cubana Yarisley Silva ficou com a prata.
Yelena Isinbayeva desta vez não foi a melhor: bronze para a musa russa (Foto: Agência Reuters)
Foi um dia de alta tensão no futebol feminino. Os Estados Unidos precisaram dos acréscimos da prorrogação para bater o Canadá por 4 a 3 e ir à final da competição.
Sinclair fez três gols, mas saiu derrotada mesmo assim. Rapinoe fez
dois para as americanas, incluindo um olímpico, e Wambach marcou o
terceiro das vencedoras no tempo normal. No período extra, quem garantiu
a classificação foi Alex Morgan, de cabeça. A final será contra o Japão, que fez 2 a 1 na França.
Alex Morgan, Ede cabeça, faz o gol da classificação americana no futebol
No basquete, foi mais um dia de apresentação para os astros da NBA. No encontro dos últimos campeões olímpicos, os Estados Unidos fizeram 126 a 97 na Argentina. Kevin Durant foi o cestinha da partida, com 28 pontos. Detalhe: ele tentou dez lances de três, e acertou oito deles.
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