10/01/2014

No Pará, primeiro clube indígena na elite de um estadual vive a expectativa da estreia



Uma pergunta simples, dez segundos de cabeça baixa e um mar de lembranças. Quando questionado sobre a sensação de presidir o primeiro clube indígena do Brasil a disputar a primeira divisão de um campeonato estadual, o cacique Zeca Gavião, presidente do Gavião Kyikatejê, não escondeu as lágrimas e revelou que o caminho percorrido desde 2009 foi árduo, mas com o final feliz que ele planejou.

Zeca disse que seu único objetivo era promover a inclusão social pela prática do esporte, fazendo com que o povo da tribo Kyikatejê – distante cerca de 580 quilômetros de Belém – tivesse a mesma oportunidade de participar de projetos e iniciativas antes destinadas, ou pensadas, somente para outro público. O objetivo foi alcançado através do futebol, e agora ele quer ir mais longe. O presidente projetou uma campanha digna na edição 2014 do Campeonato Paraense (assista ao vídeo acima).

– Sei que não foi fácil chegar aonde chegamos por tudo que nós passamos. Queríamos realmente mostrar a inclusão social. Muitas vezes as pessoas falam em inclusão social, mas poder alcançá-la é uma dificuldade muito grande. E nós conseguimos alcançar esse objetivo. Agora vamos para mais uma batalha no campeonato, vamos fazer bonito – reiterou o presidente do Gavião, em entrevista ao repórter André Laurent, da TV Liberal.
Tribo Kyikatejê (Foto: Andre Laurent/TV Liberal)Pórtico de entrada da Tribo Kyikatejê, onde fica o centro de treinamento do Gavião (Foto: André Laurent/TV Liberal)


 Quando fui contratado, pensei que encontraria algo mais simples, mas cheguei e vi o pessoal bem atualizado, inclusive acessando a internet. Todo mundo aqui é muito acolhedor"
Peri, atacante do Gavião
Para chegar até a primeira divisão do Paraense, o elenco do Gavião sofreu reformulações. Hoje ele conta com 28 jogadores, e quatro ainda são de origem indígena, sendo que dois, titulares absolutos. Além do meio-campo Watiwai, o técnico Vitor Jaime tem Aru no ataque, artilheiro de porte físico avantajado. Somente nas fases preliminares do estadual, o jogador assinalou oito gols.
– Vou jogar pintado na estreia do campeonato (contra o Paysandu, no próximo domingo, dia 12). Vou usar o preto de guerra e o vermelho de força e vontade – revelou Paulo Aritana Sompre, o Aru.

Tecnologia e costumes indígenas 

Para os demais jogadores do elenco, a experiência, além de nova, tem sido surpreendente. Aos 30 anos, Peri já rodou por times como Paysandu, Boa Esporte, Campinense e Paulista, mas se mostrou surpreso com o que viu ao chegar a Bom Jesus do Tocantins, local da tribo-sede do Gavião. A tecnologia também é uma realidade por lá, bem como a prática de novos costumes.

Aru, atacante do Gavião Kyikatejê (Foto: Marcelo Seabra/O Liberal) 
Aru em ação pelo Gavião durante a segundinha (Foto: Marcelo Seabra/O Liberal)
– Quando fui contratado, pensei que encontraria algo mais simples, mas cheguei e vi o pessoal bem atualizado, inclusive acessando a internet. Todo mundo aqui é muito acolhedor. Já entrei no clima, e vamos buscar os resultados no Campeonato Paraense.
O zagueiro Max Melo disse que já começou a adotar alguns aspectos culturais dos índios.
 – Já fui caçar algumas vezes. É bom e ajuda a relaxar. E ainda nos deixa bem fisicamente – garantiu o defensor.

Gavião e Payandu se enfrentam no próximo domingo, pela abertura do Campeonato Paraense 2014. A partida será no Estádio da Curuzu, às 16h. Para este jogo, a diretoria do time de índios promete uma grande festa, com o hino nacional cantado na “língua G” e apresentação de danças e costumes indígenas.  


Com informações do repórter André Laurent, da TV Liberal, afiliada da Rede Globo no Pará

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