04/08/2012

Londres, dia 8: um sábado diferente para Oscar Pistorius e Fabiana Murer

Sul-africano é o primeiro biamputado a disputar os Jogos. Brasileira tem nova eliminação marcante no salto com vara

 
Oscar Pistorius atletismo olimpíadas 2012 (Foto: Reuters)Oscar Pistorius, com próteses, arranca para ir às
semifinais dos 400m (Foto: Reuters)
Jorge Luis Borges, escritor argentino, mal sabia se uma bola era redonda ou quadrada. Não entendia patavinas sobre esportes. Mas criou uma tese sobre personagens, e como é de personagens que as Olimpíadas mais são preenchidas, roubaremos seu delírio. Segundo ele, para uma figura ser aceita como real pelo leitor, ela pode ter no máximo uma característica excepcional. Por exemplo: um texto ficcional aceita um sujeito que seja invisível, mas cai no ridículo se o sujeito, além de invisível, tiver a capacidade de teletransporte. Vira inverossímil. Fazendo um paralelo esportivo, não podemos acreditar em Oscar Pistorius. Não pode ser verdade que um jovem sem as duas pernas tenha se tornado multicampeão paralímpico e também tenha ido, pasmemos, para as Olimpíadas. E ido para competir em alto nível, não apenas para dar um exemplo de vida.
Deve ser uma farsa mundial, uma pegadinha do COI, um complô orquestrado por vários atores – tipo naquele filme “Show de Truman”. É bonito demais para ser verdade. É absurdo demais. Parece ficção. Jorge Luis Borges não acreditaria que o sul-africano, com o 16º melhor tempo, competindo com próteses, conseguiu classificação às semifinais dos 400m em Londres neste sábado – o dia em que se tornou o primeiro biamputado da história a disputar uma edição dos Jogos Olímpicos.
Oscar Pistorius atletismo olimpíadas 2012 (Foto: Reuters)Sul-africano acelera e avança com o 16º melhor tempo do dia em Londres  (Foto: Reuters)
Oscar Pistorius é inverossímil. E o que acontece com Fabiana Murer nos Jogos também é: em uma Olimpíada, não avança porque uma vara desaparece; em outra, porque o vento resolve ter uma crise de personalidade e passa a soprar contra – o suficiente para ela sequer arriscar o terceiro salto, alegando risco de lesão. É azar demais. É tão inverossímil quanto uma personagem que seja invisível e se teletransporte ao mesmo tempo. Ou quanto um sujeito sem as duas pernas que dispute as Olimpíadas.
Esquenta o atletismo em Londres

Fabiana Murer na prova de salto com vara em Londres (Foto: Ivo Gonzalez / Agencia O Globo)Fabiana Murer deixa prova do salto com vara após
eliminação (Foto: Ivo Gonzalez / Agencia O Globo)
Fabiana Murer chegou a Londres referendada por dois títulos mundiais. Era mais favorita a ganhar uma medalha do que em Pequim 2008, quando ocorreu o episódio do sumiço da vara. Mas foi vencida – segundo ela, pelo vento. Conseguiu ultrapassar a marca de 4,50m, mas errou as duas tentativas seguintes, com o sarrafo cinco centímetros acima. Na última chance, sentiu o vento contra ela. Correu e parou uma vez. Correu e parou duas vezes. Levou a bandeira vermelha, da eliminação. Com a marca única de 4,50m, não conseguiu avançar às semifinais.
- Foi culpa minha. Fui muito mal nos meus saltos. (...) Tentei fazer o que eu podia, mas não adiantava me jogar no último salto e me machucar – disse ela.
O segundo dia de atletismo trazia a tiracolo uma esperança de medalha para o Brasil, embora não fosse exatamente simples. Mauro Vinícius da Silva, o Duda, foi para a final do salto em distância com a melhor marca das semifinais. Mas não conseguiu repetir o desempenho na etapa derradeira da disputa. Com 8,01m, ficou em sétimo. Fez dez centímetros a menos do que um dia antes. É um nome promissor para o Rio 2016.
Nos 100m rasos, Rosângela Santos foi a primeira brasileira a alcançar as semifinais, mas não conseguiu passar dali. Fez a prova em 11s17, contra 11s07 do dia anterior. Pela manhã, Keila Costa, no salto triplo, ficou em 20º.
Outros dois brasileiros deram provas de resistência. Pâmella Oliveira, no triatlo, sofreu um tombo feio quando liderava o pelotão. Com a mão ensanguentada e as pernas doloridas, se levantou e foi até o final. E cruzar a linha também foi uma obsessão para Caio Bonfim na marcha atlética. Ele passou mal durante a prova. Vomitou. E seguiu mesmo assim. Fez os últimos 100m chorando.
usain bolt atletismo londres 2012 (Foto: Agência Reuters)Bolt faz prova tranquila e avança para as semifinais
(Foto: Agência Reuters)
O sábado teve os primeiros passos daquele que talvez seja o principal nome de Londres. Usain Bolt, o homem mais rápido do mundo, fez os 100m em 10s09, mais do que folgado para ir às semifinais. Foi o nono melhor tempo do dia. O recorde mundial é dele, em 9s58.
Em outras provas, pintaram campeões. E com a Jamaica, de Usain Bolt, bem representada. Shelly-Ann Fraser completou os 100m para mulheres em 10s75. Ficou à frente da americana Carmelita Jeter e de outra jamaicana, Veronica Campbell-Brown.
Os donos da casa também comemoraram. A queridinha dos britânicos, Jessica Ennis, confirmou a conquista do heptatlo ao ser ovacionada pelo público e chegar na frente nos 800m. A prata ficou com a russa Tatyana Chernova, e a ucraniana Lyudmyla Yosypenko foi bronze.
Nos 10.000m para homens, outro ouro para a Grã-Bretanha, mas graças a um somaliano. Mo Farah, que deixou a África quando tinha oito anos, fechou a prova em 27m30s43. A prata ficou com o americano Galen Rupp, e o bronze, com o etíope Tariku Bekele.
O dia do Brasil em Londres
comemoração Leandro Damião, Brasil e Honduras, Futebol (Foto: Agência AP)Damião comemora um dos gols marcados sobre
Honduras (Foto: Agência AP)
A mistura de raça e qualidade técnica de Leandro Damião foi fundamental para o Brasil avançar às semifinais do futebol. Fez dois gols, um deles de carrinho, no meio de dois zagueiros, e sofreu o pênalti do outro, marcado por Neymar, na vitória de 3 a 2 sobre Honduras. O oponente na briga por vaga na final é a Coreia do Sul, que eliminou a Grã-Bretanha nos pênaltis. México e Japão fazem a outra semifinal.
No vôlei de praia, uma notícia boa e outra ruim. Alison e Emanuel voltaram a vencer e garantiram vaga nas quartas de final do torneio masculino. Bateram a dupla alemã formada por Erdmann e Matysik por 2 sets a 0 (21/16 e 21/14). Já Maria Elisa e Talita foram batidas pelas tchecas Kolocova e Slukova por 2 sets a 1 (21/16, 20/22 e 15/9) e estão fora dos Jogos.
O boxe seguiu o tom do vôlei de praia e apresentou altos e baixos. Everton Lopes, campeão mundial da categoria até 64kg, foi derrotado pelo cubano Roniel Iglesias Sotolongo e acabou eliminado dos Jogos já na estreia. Por outro lado, Yamaguchi Falcão passou pelo chinês Fanlong Meng nas oitavas de final do meio-pesado.
basquete marquinhos brasil china londres 2012 (Foto: Agência Reuters)Marquinhos enterra na vitória do Brasil sobre a China no basquete masculino (Foto: Agência Reuters)
No basquete, a seleção masculina se recuperou bem da derrota para Rússia e venceu a China por 98 a 59. Com três vitórias em quatro jogos, disputará a vice-liderança da chave com a Espanha, na segunda-feira. Os russos asseguraram o primeiro lugar.
Vitória também no vôlei. O dia brasileiro foi fechado com o triunfo de 3 sets a 2 do time de Bernardinho sobre a Sérvia. Os europeus chegaram a abrir 2 a 1, mas o Brasil buscou a virada e ganhou a partida, com parciais de 22/25, 25/15, 20/25, 25/22 e 15/9. A classificação está garantida.
Já nas águas a expectativa é pela cor da medalha que Robert Scheidt e Bruno Prada ganharão neste domingo, na classe Star. Enquanto isso, Fernanda Oliveira e Ana Barbachan venceram a quarta regata na 470 e pularam para a quinta colocação ao fim do dia. Estão a 16 pontos perdidos das líderes, Jo Aleh e Olivia Powrie, da Nova Zelândia. Já Adriana Kostiw foi mal em seu último dia de competição na Laser radial e deixou os Jogos com a 25ª colocação. Patrícia Freitas também teve um sábado negativo e caiu para o 15º posto na RS-X. Ricardo Winicki, o Bimba, é décimo na RS-X, e Bruno Fontes se despediu da Laser com o 13º lugar.
É a mesma posição final de Fabiane Beltrame e Luana Bartholo no remo. Elas venceram a final C no duplo skiff leve, mas ficaram sem medalhas em Londres.
Na, na, na, na-na-na-na
Paul Mcartney, Velodromo (Foto: Agência Reuters)Paul McCartney vibra e canta junto em vitória
britânica no ciclismo (Foto: Agência Reuters)
Paul McCartney resolveu comparecer ao velódromo neste sábado para assistir às disputas de ciclismo. E deu sorte. As britânicas ganharam a prova de perseguição feminina e receberam um prêmio extra na entrega das medalhas. O público, de repente, começou a cantar “Hey Jude”, uma das principais músicas dos Beatles. Dani King, Laura Trott e Joanna Rowsell, no pódio, sorriam enquanto os espectadores, e o próprio Paul, cantarolavam o “na, na, na-na-na-na” tão tradicional da canção.
Enquanto isso, Michael Phelps se despedia. E com ouro, claro. O atleta mais vitorioso da história das Olimpíadas deu adeus às piscinas (é o que ele garante) neste sábado com mais uma vitória, a dos 4x100m medley. Assim, fechou sua história olímpica com inacreditáveis 22 medalhas – 18 delas de ouro (para se ter uma ideia, o Brasil tem 24 ouros em todas as Olimpíadas). Em Londres, ficou em primeiro em quatro provas e terminou em segundo em outras duas.
Michael Phelps recebe troféu de maior atleta olímpico (Foto: AP)Um mito: Michael Phelps deixa as Olimpíadas com 22 medalhas, 18 delas de ouro (Foto: AP)
Quem também assegurou medalha foi um dos símbolos dos Jogos de Londres, a sul-coreana Shin A Lam. É aquela esgrimista que causou comoção ao soluçar de tanto chorar depois de uma decisão polêmica da arbitragem, contrária a ela. Desta vez, ela foi prata na prova da espada por equipes. O ouro foi para a China.
Serena Williams tênis Londres 2012 Olimpíadas final pódio (Foto: Getty Images)Serena Williams celebra vitória sobre Sharapova
(Foto: Getty Images)
O dia foi marcante no tênis. A americana Serena Williams atropelou a russa Maria Sharapova na final. Venceu por 2 sets a 0, parciais de 6/0 e 6/1. Pentacampeã em Wimbledon (2002, '03, '09, '10 e '12), penta no Australian Open ('03, '05, '07, '09 e '10), campeã em Roland Garros/2002 e tri no US Open (1999, 2002 e '08), Serena agora tem no currículo o Career Golden Slam, nome dado ao feito em que um tenista vence os quatro torneios do Grand Slam e conquista o ouro olímpico em simples - ainda que em temporadas diferentes. Nas duplas, os irmãos americanos Bob e Mike Bryan derrotaram os franceses Jo-Wilfried Tsonga e Michael Llodra na final e também ganharam o ouro.
Vitória dos Estados Unidos também no basquete, mas no sufoco. Os astros da NBA tiveram que suar. Sofreram para vencer a Lituânia por 99 a 94.
Falando em sofrer, lembra daquela jogadora britânica de hóquei que fraturou o rosto ao levar uma tacada de uma japonesa? Pois ela já voltou a jogar. Após passar por cirurgia, Kate Walsh atuou com uma proteção na derrota de 2 a 1 para a China. Detalhe: uma colega dela, Anne Panter, foi atingida na bochecha por uma bolada e começou a sangrar. Mas com ela a situação foi menos grave. No segundo tempo, ela já estava de volta à partida.
Kate Walsh, Grã-Bretanha, Hoquei, Londres (Foto: Agência AFP)Kate Walsh joga com proteção no rosto no retorno aos Jogos (Foto: Agência AFP)

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