05/03/2014

Sócio-torcedor não vinga na Paraíba e clubes deixam de faturar renda extra




O Movimento Por Um Futebol Melhor, idealizado por 14 megaempresas brasileiras para alavancar o número de sócios-torcedores nos 45 maiores clubes do Brasil, e assim aumentar as receitas nestas agremiações, comemora o primeiro ano de existência, invocando o que eles chamaram de “números expressivos” sobre o projeto. Os organizadores informam que os sócios-torcedores dos clubes, somados, já passam de 700 mil, gerando uma receita total de R$ 100 milhões. Mas alheios a tudo isto os clubes paraibanos que participam do projeto (Botafogo-PB, Campinense e Treze) não conseguem explorar dele todo o seu potencial.
RANKING DO MOVIMENTO

pos.     clubes                  sócios
1º          Internacional       113.695
2º         Grêmio                   75.269
3º         Flamengo              63.503
...                    ...                    ...
35º       Botafogo-PB         739
37º       Campinense         580
44º       Treze                      16
Os três clubes da Paraíba ocupam posições na parte de baixo do “torcedômetro”, o ranking do Movimento que quase que diariamente é atualizado com o número de sócios-torcedores adimplentes de cada clube. O Belo, por exemplo, o melhor entre os times locais, é apenas o 35º colocado, com 739 associados em dia. A Raposa, por sua vez, é o 37º, com 580. Mas a situação mais precária é a do Galo, que tem irrisórios 16 associados e ocupa a penúltima colocação (à frente apenas do modesto Sertãozinho, do interior paulista, com 10).
A disparidade é grande. A título de comparação, o primeiro lugar da lista é o Internacional, que hoje tem 113.695 associados. Ele é seguido pelo arquirrival Grêmio (75.269) e pelo Flamengo (63.503). São clubes grandes, é verdade, bem maiores do que Belo, Raposa e Galo, mas as equipes paraibanas também ficam atrás de times de mesmo porte, como, por exemplo, Fortaleza, Ferroviário e CSA.
Para entender o aparente problema que afeta os paraibanos, a reportagem conversou com representantes dos três clubes paraibanos que participam do Movimento Por Um Futebol Melhor, para que todos falassem sobre o projeto e sobre o que farão em 2014 com relação aos seus respectivos programas de sócios-torcedores. E os discursos que os três clubes adotam refletem na posição de cada um no ranking.
01
no topo, botafogo adota discurso ousado
Isto porque, dos paraibanos, o discurso mais ousado é o do Botafogo. O presidente Nelson Lira declara, por exemplo, que o clube quer até outubro saltar para mais de três mil sócios-torcedores, colocando o time de João Pessoa na lista dos 30 primeiros da lista. Ele avisa ainda que neste mês de março deve iniciar uma nova campanha, ainda maior que as anteriores, para que o torcedor se associe. E provoca os rivais:
- Para mim não é surpresa o Botafogo ser o primeiro lugar entre os paraibanos. E vai continuar sendo. Porque levamos este projeto muito a sério, já que nos permite ter uma renda fixa, mesmo quando estamos sem atividades - declara.
Ele pondera ainda que, no caso do Belo, o torcedor tem uma vantagem a mais que a maioria dos outros clubes, já que o sócio-torcedor botafoguense passa a ter voz ativa também na vida política do clube.
- Diferente de muitos clubes que tem aí, nosso sócio-torcedor tem direito a votar e ser votado. Ele passa a ter voz ativa. E isto é muito bom - completou.
Torcida compareceu em grande número e fez uma linda festa nas arquibancadas do Almeidão (Foto: Rammom Monte / GloboEsporte.com/pb)Com torcida de volta aos estádios, o Belo é o melhor paraibano no ranking (Foto: Rammom Monte / GloboEsporte.com/pb)
02
sem jogar, campinense perdeu sócios
O Campinense, por sua vez, culpa o insucesso que o time teve no segundo semestre de 2013, quando o time ficou sem calendário, pelo aumento da inadimplência dos torcedores. O diretor de comunicação do clube, Tiago Melo, explica que a Raposa chegou a ter mais de 1.300 sócios-torcedores em dia no ano passado, após uma arrojada campanha de marketing que fez, mas depois este número caiu.
- Existe uma cultura no torcedor da Paraíba de só ajudar quando o clube está bem. Isso tem que mudar. O clube precisa de até mais ajuda nos piores momentos, que é para ser ajudado a se reerguer - lamenta o dirigente.
Assim, ele diz que a Raposa em 2014 vem inicialmente fazendo um trabalho pelas redes sociais e contactando um a um o torcedor inadimplente para convencê-lo a voltar a contribuir mensalmente com o clube.
- Estamos mostrando ao torcedor os benefícios que ele tem com o Movimento e os descontos que tem na compra de ingresso quando vira um sócio-torcedor em dia. A princípio, portanto, nosso foco está naquele torcedor que já é sócio, mas não vem pagando o benefício mensalmente - explica.
Ele destaca que o objetivo do clube raposeiro é, com o dinheiro do sócio-torcedor, continuar a pagar as dívidas trabalhistas da equipe, para que no futuro sobre mais dinheiro para o time montar equipes cada vez melhores.
Torcida do Campinense no Amigão (Foto: Phelipe Caldas/Globoesporte.com)Em campo, a torcida do Campinense apoiou Na Copa do Nordestão, em 2013 (Foto: Phelipe Caldas / GloboEsporte.com)


03
para treze, sucesso só com parceiros
O Treze, por fim, o time com pior desempenho dentre os paraibanos, adota um discurso de extremo pessimismo. Num caminho completamente inverso, o presidente Eduardo Medeiros diz que a única forma que teria para montar uma estrutura profissional para o sócio-torcedor do Treze seria fazendo uma parceria com uma empresa que quisesse tocar e executar o projeto. Mas, segundo ele, esta ideia esbarra numa “mentalidade equivocada” que existe internamente no clube.
- O clube não tem competência ou condição para gerir um projeto desse com o profissionalismo que se exige. Caso se aventure, terá prejuízo. E a saída seria uma parceria com uma empresa que tenha mais experiência. Pena que existe uma cultura no Treze que acha que parcerias trazem prejuízo. Se a gente entrega o projeto para uma empresa parceira, acham logo que estamos roubando - declarou Eduardo de forma franca.
Ele explica ainda que, além de tudo isto, o Treze teve um ano atípico em 2013, devido aos problemas que, segundo ele, foram encontrados pela atual gestão.
- O ano passado não é referência para o Treze. Assumimos um clube quebrado e com dívidas na casa de R$ 8 milhões. Tivemos que arrumar a casa. E por isto o projeto de sócio-torcedor não foi prioridade - admite.
Mas engana-se quem espera um ano melhor para o Galo no que diz respeito ao Movimento. Eduardo Medeiros mais uma vez diz sem meias palavras que a situação não deve melhorar muito.
- Para 2014 o problema segue, porque a cultura 'antiparceria' segue. O calendário cheio que teremos vai minimizar muitos dos problemas, mas não acredito que consigamos algo muito diferente no que diz respeito ao programa de sócio-torcedor - conclui.
Treino do Treze (Foto: Nelsina Vitorino / Jornal da Paraíba)Diretoria do Treze admite não ter como priorizar o programa de sócio-torcedor (Foto: Nelsina Vitorino / Jornal da Paraíba)
04
como funciona o movimento
A ideia do Movimento Por Um Futebol Melhor é simples. Todas as empresas parceiras dão descontos automáticos ao sócio-torcedor, que pagam menos por produtos que vão desde refrigerante e cerveja, passando por produtos alimentícios e de higiene pessoal, até combustível e revistas. Assim, a tendência é que o clube consiga aumentar o número de sócios, que por sua vez compra mais os produtos que lhe dão vantagens, num ciclo em que todos sairiam ganhando.
- Oferecemos um 'pacote de serviços' em que, nas compras do dia a dia, o torcedor economiza por mês mais do que paga como mensalidade ao clube. Nosso slogan atual é “não tem como não ser sócio”. Mas se a gente pensar bem, é até estupidez não ser sócio - declara Marcel Marcondes, diretor da cervejaria que lidera o movimento.
Para mim não é surpresa o Botafogo ser o primeiro lugar entre os paraibanos. E vai continuar sendo. Porque levamos este projeto muito a sério"
Nelson Lira,
presidente do Botafogo
Ele diz ainda que o número total de sócios ainda é pequeno para a quantidade de torcedores que cada um destes clubes possui (0,2%), e aumentar esta proporção é a próxima meta do movimento. Mesmo que, a preço de hoje, os números já sejam responsáveis por um faturamento que não pode mais ser descartado.
No caso do Flamengo, por exemplo, o presidente Eduardo Bandeira de Melo diz que o programa de sócio-torcedor do Rubro-Negro já representa a terceira maior fonte de renda do clube, atrás apenas dos direitos de transmissão e da verba repassada pelos patrocinadores. E que, se a projeção para 2014 sobre o aumento do número de sócios for alcançada neste ano, a receita advinda do movimento “roubará” o segundo lugar da verba de patrocínios.
- O Flamengo projeta lucrar R$ 45 milhões apenas em 2014 com isto - aposta.

Globoesporte.com/PB

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