13/09/2014

Atletas abrem mão de salário para jogar Segunda Divisão do Paraibano


treino femar, femar, treino do femar (Foto: Lucas Barros / GloboEsporte.com/pb)
Foto: Lucas Barros / GloboEsporte.com/pb
O que você acha de trabalhar quase todos os dias da semana e no fim do mês ter que devolver ao patrão todo o salário que receber? Um clube de futebol de João Pessoa adotou essa medida no mínimo inusitada. Inscrito na Federação Paraibana de Futebol (FPF) como equipe profissional há menos de dois meses, o Femar vai disputar pela primeira vez a 2ª divisão do Campeonato Paraibano. Sem apoio e em busca de cumprir as exigências da Lei Trabalhista, o clube assina a carteira de todos os jogadores e paga um salário mínimo a cada um. Mas após o dinheiro cair na conta bancária, os atletas automaticamente fazem a doação da grana de volta à diretoria. 
A proposta foi apresentada pelo presidente do clube, Severino Ferreira, e prontamente aceita pelos jogadores. Mas o dirigente garante que, antes de tomar a "decisão drástica", foi em busca de recursos para pagar os salários do elenco. Ele revela que chegou a fazer apelos a empresários e governantes, mas não obteve resposta. 
- A gente passa um documento para eles (os jogadores), estipulando o valor do salário e depois é feita a doação para a gente. Estamos vendo que existe a boa vontade dos jogadores e a política é essa. A gente faz de conta que paga e eles fazem de conta que recebem. Esses garotos vêm sofridos e não tiveram oportunidade em outros clubes. E a gente está aqui dando esta oportunidade - comentou Severino Ferreira.
Apesar de o grupo não receber salário, Ferreira exige que os mais de 20 jogadores demonstrem empenho em campo. Tanto que, se algum deles fizer corpo mole, vai ser dispensado. Para o presidente do clube paraibano, a política de doação de dinheiro do elenco não deve prejudicar no desempenho da equipe na 2ª divisão do estadual.
- Todos estão querendo. A gente vê dentro de campo. E aquele que a gente perceber que não está querendo jogar, automaticamente a gente vai ter que chegar junto dele e falar que não está sendo útil, não está servindo para o clube. Essa política com certeza vai pegar.
rtunidade de atuar em um clube profissional pela primeira vez e aprova o acordo. - Vai ser um ajudando o outro. Ele está me ajudando e eu ajudando ele (Ferreira). Vou fazer de tudo para trabalhar e me manter para ajudar minha equipe. Espero que seja um campeonato bom. Iremos fazer de tudo para vencer - garantiu Joanderson. 
O Femar, equipe do bairro dos Funcionários II, na capital paraibana, sempre teve o objetivo de revelar jogadores. O clube não tem estrutura suficiente para treinamentos e possui apenas um campo sem gramado, apelidado pelos moradores da região de "Poeirão". Há 19 anos, Ferreira desenvolve o trabalho neste local.
No campo de terra batida, surgiram nomes para o futebol brasileiro, como o do atacante Paulo Henrique (ex-Atlético-MG e atualmente no Shanghai Greenland, da China) e o do volante Léo Henrique, que é dos juniores do Flamengo e conquistou o Campeonato Carioca deste ano pelo time profissional.
- A gente desenvolve esse trabalho na Paraíba voltado para isso. Não é para fazer o time ser dono da situação. É para mostrar que a gente tem trabalho e aqui tem jogadores de talento. E, graças a Deus chegou, agora, essa oportunidade de ter essa equipe profissional - finalizou Ferreira. 
Isso é legal? 
A postura do Femar em pagar os salários e fazer o acordo com os jogadores para que eles devolvam o dinheiro pode até causar estranheza por parte dos torcedores. Mas o advogado especialista em direito do trabalho, Rodrigo Dalbone, esclarece que a atitude da diretoria não é necessariamente irregular. 
Para Rodrigo Dalbone, desde que o clube esteja cumprindo os pagamentos de INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) e FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço), tudo está dentro da legalidade. E sobre essa devolução de salário por parte dos jogadores, ele diz que fica a critério de cada um.
- Em uma visão completa da história, a gente está vivendo dois mundos: o da legalidade e também o da paixão pelo futebol. Se o Femar efetivar os recolhimentos fiscais, previdenciários, tudo direito desses jogadores e os jogadores aceitarem receber essa doação e fazer uma devolução daquilo que estão recebendo em favor do clube, em termos de paixão e até para ver o clube prosperar, à primeira vista não há uma ilegalidade nesse lado da devolução. O trabalhador faz aquilo que ele quer com o dinheiro que recebe. Só que, junto com a questão salarial, o clube tem que entender que tem várias obrigações - explicou o advogado trabalhista.

Por Globo Esporte PB

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