05/02/2015

Duas tradicionais equipes do interior paulista refletem falencia e fecham as portas neste ano de 2015


Estádio Zezinho Magalhães sempre foi palco de grandes públicos do XV de Jaú, mas hoje está entregue às moscas
Estádio Zezinho Magalhães
São Paulo, SP, 05 (AFI) – O futebol do interior de São Paulo é um reflexo da atual administração da Federação Paulista de Futebol (FPF). Nesta quarta-feira, dois dos principais representantes do futebol “caipira” oficializaram a desistência da disputa do Campeonato Paulista da Segunda Divisão. Alegando problemas financeiros, XV de Jaú e União São João decidiram fechar as portas em 2015. 
Visivelmente abatidos, dirigentes dos dois clubes evitam comentar sobre o estado de penúria atual. O presidente quinzeano, Laércio Carneiro, falou sobre o pedido de licença apenas através de uma nota divulgada pela assessoria de comunicação do Galo da Comarca.
“Foi uma decisão difícil, complicada, porém muito bem pensada e estudada, para não aumentarmos as dívidas”, explicou Carneiro. “É importante ressaltar que o XV de Jaú pediu licença de disputar o campeonato, e não licença da Federação Paulista de Futebol”, completou, dando a esperança de um retorno em breve.
Com um site oficial completamente desatualizado, o União São João sequer noticiou as explicações de seus dirigentes. O clube apenas divulgou uma extensa nota oficial através de sua página no Facebook. E também deixou no ar a possibilidade de retorno.
“Lamentamos, mas esta é a nossa triste realidade. Pedimos desculpas a todos aqueles parceiros que ao longo de nossa trajetória estiveram junto conosco em todos os momentos de alegria e de tristeza, a imprensa (rádio, jornal, TV, internet, etc.), as nossas autoridades, ao povo de Araras e, principalmente, aos nossos torcedores. Até breve, União São João de Araras”, publicou o clube.
PROBLEMAS
O ponto comum para a desistência dos dois clubes foi a falta de dinheiro. Ambos argumentaram que não teriam recursos para montar elenco e comissão técnica capazes de competirem a Segundona neste ano.

Hermínio Ometto ficará fechado: União São João, de clube-empresa a clube falido
Hermínio Ometto ficará fechado
O XV de Jaú também foi impedido por um problema jurídico. O clube de 90 anos está suspenso pela FPF por conta de uma dívida de R$ 110 mil com a entidade e também por não ter publicado o balanço financeiro referente a 2013. Por outro lado, o União São João está com o Estádio Hermínio Ometto em obras e não conseguirá entregar os laudos de vistoria dentro do prazo estipulado.
PASSADO SEM PRESENTE
Fundado em 15 de novembro de 1924, o XV de Jaú é um dos clubes mais tradicionais do interior paulista, com 26 participações no Paulistão – sendo a última em 1996 - e duas no Brasileirão. Seus principais títulos estão o Paulista do Interior de 1951 e as das taças da Série A2 de 51 e 76.
Dino Sani (centro) foi uma das joias reveladas pelo XV de Jaú
Dino Sani (centro) foi uma das joias reveladas pelo XV de Jaú
O Galo da Comarca também sempre foi conhecido como um dos principais celeiros de craques. Foram inúmeras as revelações do clube, como Dino Sani (ex-volante do São Paulo), Sormani (ex-ponta do Santos), Marolla (ex-goleiro do Santos), Sonny Anderson (ex-atacante do Barcelona), Wilson Mano (ex-zagueiro do Corinthians), Edmilson (ex-volante pentacampeão mundial) e França (ex-atacante do São Paulo).
No futebol atual, dois jogadores campeões recentemente pelo Corinthians também saíram da base do XV. São os casos do volante Ralf e do zagueiro Leandro Castán, atualmente na Roma. Quem também vestiu a camisa do clube foi o meia Kazu, que é um dos maiores ídolos da seleção japonesa.
ASCENSÃO E QUEDA METEÓRICAS
O União São João é bem mais novo que o XV de Jaú, mas sua ascensão meteórica fez a Ararinha atingir voos mais altos na história. Fundado em 14 de janeiro de 1981, o União tornou-se uma potência no Interior na década de 90. Com o apoio da Usina São João, o União São João tornou-se o primeiro clube-empresa do Brasil.

O resultado disso foram quatro participações na elite brasileira no período (1993, 94, 95 e 97). Entre seus principais títulos estão o Brasileiro da Série B de 1996, a Série C de 1988, a Série A2 do paulista de 1987 e o Paulista do Interior de 1997.
Roberto Carlos é o filho mais ilustre da base do União
Roberto Carlos é o filho mais ilustre da base do União
O filho mais ilustre da base do União é também um dos maiores laterais-esquerdo da história: Roberto Carlos. Além do ex-craque de Real Madrid e Seleção Brasileira, surgiram no clube o lateral Léo (ex-Santos), o meia Alexandre (ex-São Paulo e Santos), e os atacantes Borges (do Cruzeiro) e Luan (ex-Palmeiras).

MESMO DESTINO?
Assim como XV e União, não faltam exemplos de clubes do Interior se arrastam rumo ao abismo. O exemplo mais emblemático é o Guarani, que acumula dívidas que ultrapassam os R$ 250 milhões e pode perder seu maior patrimônio, o Estádio Brinco de Ouro, para quitar os débitos. Situação semelhantes à da Portuguesa, que embora não seja do Interior também corre risco de perder o Canindé.

Na próxima Segundona de 2015, vários clubes tradicionais do Interior tentarão sobreviver para evitar o mesmo destino dos dois clubes. São os casos de Portuguesa Santista, América e Noroeste, que juntos possuem mais de 150 participações no Paulistão.
Se depender do apoio da FPF, porém, a tendência é de que cada vez mais clubes que escreveram a história do futebol paulista rumem em direção ao abismo. Os quatro grandes, mesmo com todas as arrecadações que já possuem, ainda recebem uma cota de R$ 14 milhões para disputar o Paulistão. Os demais 16 times têm direito a apenas R$ 2,75 milhões.
O abismo paras as divisões inferiores, entretanto, é ainda mais absurda. Os clubes que disputam o Paulista da Série A2 têm direito a apenas R$ 120 mil para a disputa dos quase quatro meses de competição. Quem joga na Série A3, leva apenas R$ 80. 

Agencia Futebol Interior

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