24/04/2014

Campo enche dagua e time fica sem treinar e manda seus jogos fora de seus domínios em competição no Pará


Campo Barão do Amazonas, Aritapera Santarém (Foto: Arquivo pessoal/Dorivan de Sousa)
O campo tomado pela cheia do Rio Amazonas (Foto: Arquivo pessoal/Dorivan de Sousa)
Um time que não joga em casa e não treina para as partidas pode ter chance em alguma competição? O Barão do Amazonas, equipe amadora da região de Várzea de Santarém, mostrou que sim. O clube participou do módulo de Rios da Copa dos Campeões local, mas foi o único que não jogou uma partida em seus domínios. Representando a comunidade Boca de Cima do Aritapera, localizada a cerca de 15 km da cidade, o time sofreu com o período de cheia do Rio Amazonas, que acabou tomando conta do campo e de sua sede. Por causa disso, a equipe ribeirinha mandou um jogo na primeira fase contra o Luso Brasil em uma comunidade vizinha e depois disputou toda a segunda fase em Santarém, no campo do Panterão – empatou em 1 a 1 com o União do Parauá e perdeu para o Esporte Clube Saracura por 4 a 3. Nessa fase decisiva, todos os times da Várzea foram levados à zona urbana, por conta da subida do nível do rio.
Barão do Amazonas, Aritapera Santarém (Foto: Arquivo pessoal/Dorivan de Sousa) 
O time em terra firme (Foto: Arquivo pessoal/Dorivan de Sousa)
No caso do Barão, a situação é um pouco pior, já que o time não teve condições de treinar para nenhum dos jogos que disputou pela competição. Nesta época do ano, os moradores se deslocam por canoas pela comunidade e não existe um espaço de terra firme para que os jogadores pudessem fazer algum tipo de preparação.
- Nossa realidade é difícil. Jogar aqui em Santarém sem treinar é muito complicado. Nosso time passa a semana toda na proa de uma canoa, e no sábado ou domingo tem que viajar e entrar em campo. Mas os comunitários da Várzea têm que se acostumar com esses fenômenos da natureza – explica Domingos Sousa Pereira, presidente do Barão do Amazonas. Mesmo assim, a equipe conseguiu fazer uma boa campanha. Foi eliminada após a derrota para o Saracura - que acabou se sagrando o time campeão da Várzea - mas chegou ao triangular decisivo de seu módulo,  junto a Esporte Clube Saracura e União do Parauá.
A Copa dos Campeões de Santarém está em sua primeira edição e reúne equipes da zona urbana e rural do município, divididas em módulos de acordo com a região – na cidade, são dois grupos correspondentes às áreas dos bairros Prainha e da Aldeia, no interior, os times do Planalto e da Várzea têm chaves diferentes.
viagens, deslocamento e alimentação
Para disputar os jogos, a delegação viaja por duas horas e meia de barco da comunidade Boca de Cima do Aritapera para Santarém e depois faz o mesmo trajeto de volta. Essas viagens foram custeadas pelo próprio clube, que gasta, em média, R$ 700 por partida.
O presidente fechou parcerias com donos de embarcações que fazem viagens para Santarém durante o período da Copa dos Campeões. De acordo com ele, cerca de 30 pessoas, entre jogadores, comissão técnica e torcida, ia até a cidade a cada final de semana que o Barão entrava em campo.
Chegando à cidade, os jogadores ficavam na casa de parentes. No entanto, depois de cada partida, também coube à direção custear a alimentação de toda a delegação. Com a ajuda de familiares e da própria comunidade, os atletas almoçaram, jantaram e lancharam por diversas vezes na casa de Domingos de Sousa Pereira, em Santarém.
- Nós temos conseguido dar esse apoio para eles. Com a ajuda de comunitários que hoje moram na cidade, nós compramos carne e outros alimentos e trazemos a delegação para minha residência – explica o presidente do clube.


Paixão pelo futebol
Campeão ribeirinho no ano passado, o Barão do Amazonas ganhou o direito de participar da Copa dos Campeões 2014. Fundado há mais de 60 anos, o clube ganhou esse nome para homenagear os homens ricos e importantes que visitavam a comunidade Boca de Cima do Aritapera pela década de 50.
De lá para cá, o clube seguiu participando de competições entre as comunidades de várzea e construiu uma nova sede, dando sequência à paixão dos moradores pelo futebol. Mesmo com todas as dificuldades enfrentadas para participar da competição, a oportunidade de jogar um torneio na cidade foi vista com muito entusiasmo tanto pra os jogadores quanto para a direção do clube.
De acordo com Domingos de Sousa, os moradores de todas as comunidades de várzea de Santarém gostam do esporte, e por isso montam times de futebol para disputar campeonatos locais. Ele afirma que o trabalho que teve para proporcionar ao time sua participação na Copa dos Campeões valeu a pena para que o clube possa ficar mais conhecido no cenário municipal.
- Sem dúvida, nossa região da várzea é carente, mas é determinada. E por isso, com a ajuda de todos os nossos conterrâneos, conseguimos viabilizar a participação da equipe. As comunidades são apaixonadas por futebol, temos locais com dois ou três equipes, o que mostra essa relação com o esporte. Jogar é a nossa diversão, e é por isso que nos esforçamos tanto. 

Por Globo Esporte

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